Breath of Life 

Essa é a estorinha de um coelhinho chamado Atchim. Atchim morava com seus pais e seus irmãozinhos em um lugarejo muito bonito, chamado Mundo Encantado dos Animais.

Atchim não era completamente feliz, pois desde que nasceu, sofria de uma alergia tão forte tão forte, que não havia médico, mesmo no mundo encantado em que vivia, que parasse com seus espirros e descobrisse a causa da sua alergia.

Durante toda sua vida foi caçoado por seus amiguinhos, e até o seu nome verdadeiro que era Florismundo, foi trocado por Atchim. Ninguém gostava de ficar perto dele, e a cada dia que passava, Atchim ia ficando mais isolado e vivendo no seu próprio mundinho. Atchim era um coelhinho tristonho e muito solitário. Muitas vezes Atchim não sentia vontade de ir à escola, pois já estava cansado de ser criticado por todos.

A culpa desse tipo de vida que levava, em parte era somente dele. Atchim nunca obedecia à sua mãe, quando o aconselhava a levar um lencinho no bolso quando saia de casa, e tinha o péssimo hábito, de limpar a chuvinha que saia dos seus espirros com suas mãos, e passando depois em sua calça. Assim, Atchim continuava a sua vida, sempre passando por esses momentos tão angustiantes e embaraçosos.

Um certo dia, a sua alergia piorou muito, e enquanto estava na fila do ônibus que o levaria à escola, ele deu um espirro tão forte, que a chuvinha do seu espirro foi cair bem no pescoço de uma coelhinha muito coquete que estava à sua frente. A coelhinha parecia estar pronta para uma festa, pois estava muito arrumada. Em suas trancinhas, ela usava laços de fitas coloridas, e por cima do seu vestido, usava um avental todo bordado, desenhado com flores e borboletas.

Realmente, foi muito azar do Atchim. Se ao menos tivesse espirrado em cima de um coelho malandro como Frajola… Penso que poderia até sair uma briga, mas não passaria pela vergonha de levar uma bronca de uma coelhinha tão dengosa e faceira, na vista de todos que estavam na fila do ônibus. E foi o que a coelhinha fez, no momento em que sentiu que alguma coisa fria havia caído em suas costas. A princípio pensou que fosse respingos de chuva, o que seria impossível, pois o dia estava muito bonito. Resolveu então olhar para trás, e perguntar a Atchim se ele não costumava usar um lenço quando espirrava. Atchim sentiu vontade de sumir, e mais uma vez, passou por mal educado, pois nem teve coragem de responder.

Com o passar do tempo, a sua família já não era mais convidada para os aniversários de amigos, quando um certo dia, uma família que havia mudado há pouco tempo para perto de sua casa, não sabendo do problema do Atchim, convidou toda a família para uma festa de aniversário. No decorrer da festa que estava muito animada, tudo estava indo bem, até o momento em que os convidados foram chamados para se aproximar da mesa, e ver o aniversariante apagar as velinhas do bolo. Atchim não deveria ter ficado tão perto como ficou, mas, desde que chegou na festa, já estava de olho no bolo que parecia estar muito gostoso. Atchim era muito guloso, e ficou bem perto do bolo, que era em forma de uma grande cenoura, para ver se recebia uma das primeiras fatias. Foi nesse momento, que Atchim foi castigado por sua gulodice. Por causa da fumaça que saiu de algumas velinhas, e que veio bem em direção ao seu nariz, ele deu um espirro tão forte, tão forte, que apagou todas as velinhas ao mesmo tempo, mesmo antes do aniversariante tentar apagar. Tudo aconteceu muito de repente. Atchim não teve tempo nem de se afastar de perto do bolo. O aniversariante ficou muito aborrecido, porque além de não ter podido apagar as velinhas, o bolo ficou todo molhado com a chuvinha que saiu do nariz de Atchim junto com o espirro, e quem sabe, estava cheio de micróbios. O bolo que parecia estar muito gostoso não foi mais apreciado pelos coelhinhos e pelos convidados da festa, que ansiosos como Atchim, esperavam para comer o delicioso bolo.

Os pais do Atchim ficaram muito envergonhados, e na mesma hora deixaram a festa. Atchim ficou muito triste, pois além do que aconteceu, ele ficou sem a lembrancinha que os coelhinhos iriam ganhar no final da festa. A lembrancinha era uma linda caixinha, cheia de chocolates em forma de cenourinhas. Até cabinhos verdes as cenourinhas tinham. Quantas festas boas sua família perdeu depois desse dia, pois raramente eram convidados. Penso que Atchim não conhecia o ditado que diz: “Os últimos serão os primeiros”, do contrário não teria ficado tão perto do bolo. Foi pena, pois se ele soubesse… nada disso teria acontecido.

Uma outra situação ruim que Atchim passou por causa da sua alergia, foi quando houve um jogo de futebol na escola em que estudava. Vocês já imaginaram um jogo de futebol com coelhinhos fazendo parte do time? Isso aconteceu, quando um time da cidade vizinha veio jogar com sua escola. Todos os alunos da escola de Atchim que participavam do jogo, estavam nervosos, pois ouviram falar que o time era muito bom. Por incrível que pareça, Atchim foi um dos alunos escolhidos para participar do jogo. O treinador sabia que apesar do problema que ele tinha com seus espirros, Atchim era um bom corredor, era muito ágil e corria bastante com suas pernas compridas. Chegou finalmente o dia do jogo. Toda a escola estava presente e torcendo pelo seu time., e o jogo estava sendo difícil até depois do meio tempo. Faltava somente alguns segundos para acabar o jogo, e a partida estava ainda 0 a 0. Nem  Atchim com suas pernas compridas havia conseguido fazer um gol. A torcida vibrava, quando em um certo momento, Atchim pegou a bola no pé, e foi levando com muita velocidade até perto da trave. O goleiro muito nervoso começou a se preparar para pegar a bola. Esse seria um  momento muito importante, em que Atchim poderia conseguir a vitória para a sua escola, principalmente porque, o goleiro escorregou e caiu de peito no chão. Todos torciam pelo gol tão esperado, só que o gol da vitória não aconteceu. Penso que vocês já devem estar adivinhando o motivo. Devido a poeira que estava saindo do campo, Atchim sentiu vontade de espirrar justamente no momento em que ia chutar a bola e tentar fazer o gol. Como acontece algumas vezes quando as pessoas espirram, Atchim fechou os olhos e perdeu a direção do chute da vitória. A bola passou raspando fora da trave. Nesse mesmo momento, o juiz apitou o final da partida… que infelizmente  terminou com o placar de 0 a 0. Atchim perdeu a grande chance de conseguir a vitória para sua escola, e o pior, perdeu a grande chance, de ter um pouquinho de cartaz junto aos amiguinhos que sempre caçoavam dele. Na verdade, os amiguinhos que caçoavam dele, nunca foram seus amiguinhos verdadeiros, pois nunca devemos caçoar de ninguém, principalmente quando a pessoa tem algum probleminha como o Atchim. Atchim saiu do campo chorando, e sem saber como enfrentar a fúria do seu instrutor e de todos mais na escola. Essa foi mais uma grande decepção na vida do pobre Atchim.

        O tempo passou, quando um certo dia, a mãe do Atchim o levou para arrancar os dois dentinhos da frente que estavam caindo. Atchim já estava com quase sete aninhos e os dentinhos verdadeiros já queriam nascer e não encontravam espaço. Só que, o dentista não conseguiu arrancar seus dentes, pois todas as vezes que o dentista vinha com a agulha para dar a injeção com a anestesia, Atchim começava a ter um acesso de espirro. Penso que nesse dia foi muita esperteza do Atchim. Desde que saiu de casa, ele estava morrendo de medo da fisgada da agulha, e assim, pensou em fingir que estava espirrando de verdade, e sem parar. Por ele não ter deixado arrancar os dentinhos como precisava, ficou sendo o coelhinho mais dentuço da cidade. Olhando a foto na capa da estorinha, dá para ver bem como Atchim ficou. Pobre do Atchim, além de ter esse problema do espirro, ainda ficou dentuço.

        Para acabar com as estorinhas que aconteceram na vida do coelhinho Atchim, vou terminar com um acontecimento feliz que aconteceu em sua vida. Eram férias escolares, e seus pais resolveram ir com toda a família para uma colônia de férias. Em colônias de férias, principalmente para os pais, existem poucas diversões. No acampamento quando a noite chegava e os filhos já estavam dormindo, os pais se reuniam e começavam a conversar sobre suas vidas e sobre probleminhas que existiam em suas famílias. Em um desses encontros, a mãe do Atchim resolveu falar sobre o problema da alergia do Atchim, e o quanto atrapalhava a sua vida, não só na escola como ao seu relacionamento com todos os seus amiguinhos. Nessa noite, encontrava-se no grupo, um coelho muito velhinho, conhecido como Professor Florismundo. Ele havia viajado por terras distantes em volta de quase todo o mundo. Era muito inteligente e muito sábio.  Que coincidência, não? Ter o mesmo nome do coelhinho Atchim. Foi quando calmamente ele se dirigiu à mãe do Atchim, dizendo que o problema que afligia o Atchim, talvez fosse da cenoura que ele comia desde que nasceu. Vocês já pensaram, cenoura fazer mal a coelho? Todos imediatamente ficaram surpresos, mas, para a mãe do Atchim, esse conselho foi muito importante. Assim, resolveu seguir o conselho do velho professor, e a primeira coisa que fez quando voltou das férias, foi tirar a cenoura de sua alimentação diária durante um mês. Como foi difícil para o pobre Atchim, vendo todos em casa comendo cenourinhas fresquinhas colhidas do próprio quintal de sua casa. E assim, com o passar do tempo, Atchim foi melhorando, e finalmente ficou completamente curado. Graças a esse sábio professor, Atchim se tornou um coelhinho feliz, e pode conviver com seus amiguinhos na escola, com seus vizinhos e com outras pessoas outra vez.

Atchim com todos esses probleminhas que teve, aprendeu muita coisa. Aprendeu principalmente a aceitar os conselhos de sua mãe, e sempre que saia de casa levava um lencinho no bolso. Só que, Atchim não levava um lencinho comum no seu bolso, pois aprendeu também com sua mãe, que lenço feito de pano não é muito higiênico. Sua mãe  ensinou, que todos os microbiozinhos que vêm junto da chuvinha do espirro, ficam sempre no lenço. Assim, sempre que saia, Atchim levava uma caixinha pequena de lenço descartável não só para ele, como também para oferecer às pessoas quando não pudessem evitar um espirro em público. Atchim aprendeu também uma coisa muito importante: Ouvir sempre o que a mãe dele aconselhava. Se ele tivesse ouvido sempre a sua mãe,  não teria passado por tantos momentos embaraçosos em sua vida.

De tudo que aconteceu na vida de Atchim, o melhor foi que ele voltou a ser chamado pelo seu próprio nome, e que tanto se orgulhava… Florismundo. Por incrível que pareça, mesmo com esse nome bem diferente, Atchim tinha muito orgulho do seu nome, pois era o nome do seu avô paterno. Vocês gostaram desse nome? Gostaria de saber, pois eu não gostei.

Lembrei de contar a estorinha do Atchim quando ele ficou com medo de arrancar seus dentinhos, como lembrança do dia em que os dois dentinhos da frente da minha netinha Stephanie estavam caindo, e ela teve que ir ao dentista. Soube que ela havia sido muito corajosa, bem diferente do Atchim, pois Stephanie nem teve medo da agulha da anestesia. Stephanie recebeu a anestesia parecendo uma pessoa adulta e foi muito corajosa. Existem pessoas que já são adultas, e continuam parecendo criancinhas medrosas. Eu conheço uma pessoa assim. Vocês também conhecem?

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